quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Literatura Juvenil

Hoje vou eternizar aqui dois contos propostos como desafios por mim e meu esposo aos filhos dele, meus amados enteados, João e Ariana. No penúltimo fim de semana que eles estiveram conosco, eu havia presenteado Ariana com um livro muito legal, A mordida do Vampiro, de Laerte Verrier. Meu esposo ofereceu o desafio de cada um criar um conto, Ariana deveria elaborar algo com o título de “O pum do vampiro”, e João, “O pum do robô”. E não é que eles gostaram? É como todo o professor sabe: o incentivo à literatura deve partir de algo interessante para os jovens e que faça sentido no universo deles. Querem conferir essa incrível experiência? Começando pelo mais novinho, João, de 9 anos, fez o que pode ser chamado de um pequeno roteiro ou planejamento (omitindo seus fofos errinhos de português), assim:
- Por que o cientista construiu o robô? Para procurar uma namorada.
- E por que ele soltou pum? Porque esqueceu de botar um tampão na bunda do robô.
- A cidade que o cientista construiu o robô é Nova Yorque.

O PUM DO ROBÔ
Numa cidade muito distante, tinha um cientista chamado Peter Parker Watson. Ele construiu um robô. O robô fugiu para o espaço para procurar uma namorada no Futurama e soltou um pum e a robô não gostou. Ela começou a rir e ele foi embora e chorou e soltou outro pum. Fim.

João Paulo Andriotti


Na sequência, apresento Ariana, de 14 anos, leitora voraz de diversas sagas e romances diversos, com um futuro literário brilhante. 

O PUM DO VAMPIRO
Bom, você já sabe que vampiros não são como nos contos de fadas, que não podem comer alho, não podem sair no sol, senão morrem, dormem em caixões e bebem sangue... Se você não sabia, estou lhe contando agora. Vou contar uma história de um vampiro que conheci.
Logan era um menino de 17 anos, aparentava ter pelo menos, na verdade tinha 145. Sua comida preferida era pizza de alho, adorava sair em dia de sol e não dormia; ele tomava sangue de animais de vez em quando.
Estudava, comia, saiu como qualquer menino normal, o que ele não era... Um dia normal na escola de Arianópolis, Cassandra Meyer, uma garota nova na cidade, por algum motivo não parava de olhar para ele. Por que será que uma menina tão bonita olhava tão atentamente para uma aberração?
Um dia estávamos sentados no banco do refeitório Logan, Scott e eu; por algum motivo idiota que nenhum de nós sabe é que Cassandra veio falar com Logan e parecia que ele também queria saber mais dessa menina.
Uns dias depois, Logan não parava de falar nela, era óbvio que ele gostava dela e ela dele. Começaram a sair, depois de um tempo ela começou a sentar conosco na mesa do refeitório.
Foi como sempre, os dois não calavam a boca, eu comendo minha maçã, Scott sua pizza de queijo e Logan a sua de alho. Cassandra, por algum motivo mais idiota, não comia nada, só ficava olhando para Logan com um olhar estranho.
Mas de repente deu um barulho não muito alto, mas assustador, e começou um cheiro estranho e isso vinha de Logan. Olhamos para ele com um olhar assustado, mas por algum motivo mais idiota ainda, Meyer começou a rir até não poder mais e falou:
– Essa foi a primeira vez que vi um vampiro soltar pum!
Logan ficou bravo e saiu bufando do refeitório, Cassandra saiu correndo atrás, mas sem sucesso voltou.
Foi a última vez que vimos Logan. Depois de alguns dias, veio a notícia: Charles Kinnei, de um clã vizinho, veio avisar que encontrou Logan cortado ao meio. Como isso aconteceu, ninguém sabe... Só nos falaram que tiveram que queimar para não atrair visitantes indesejáveis.

Ariana Andriotti.



segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Eu nem queria mesmo...

É difícil de acreditar, mas nos últimos anos tudo está ficando limitado em minha vida. Eu finjo não dar bola, até para mim mesma. Não bastasse ter herdado os problemas ósseos de minha mãe, agora descobri uma doença que não tem cura na pele, que por acaso vem de minha mãe também. Então tá, não podia fazer determinados exercícios, determinadas posições que me incomodam, ou doem. Agora já não posso fazer tatuagens, tenho que cuidar a exposição ao sol... Tudo bem, eu nem queria mesmo fazer mais nenhuma linda tatto; eu nem amo ficar no sol; eu posso muito bem comprar um guarda-sol. Eu nunca gostei de passar cremes, afinal me deixam melecada e sempre considerei isso uma perda de tempo, sempre fui meio desleixada com essas coisas de beleza, como manter as unhas bem feitinhas, uma pele macia, um cabelo bem hidratado... Mas por outro lado, passar óleo duas vezes por dia, protetor fator 50 bem caro e mais um creme facial à noite vai me ajudar a não ficar velha precocemente. Mesmo que eu nem aparente ter a minha idade. Hoje estava conferindo mais alguns detalhes dessa minha doença que me acompanhará pra sempre e, adivinhe, agora que quero engravidar, corro o risco de abortar, ou de ter um bebê com baixo peso, ou parto prematuro, ou eclâmpsia. Também li que posso ter dificuldades em ter relações sexuais, beijar e fazer movimentos com as mãos. Pode isso? Deixa pra lá, eu nem estava tão emocionada com a ideia de engordar e ter que cuidar de um lindo bebê. E sobre o sexo, bem, essa não sou eu. Não será eu. Isso é tudo uma mentira de quem fez pesquisa sobre uma coisa que nem tem no corpo como eu e se acha no direito de tirar minha tranquilidade. Vou parar de pesquisar coisas sobre isso. Se um dia eu ficar torta ou frígida, já vou estar velha mesmo. E se não estiver, paciência, eu nem queria mesmo ser perfeita. Quem sabe eu encontro durante o caminho outras formas de ser feliz? Ou arrumo uma forma de morrer rapidamente. Mas e meu amor, como ficará? Ai, que coisa mais depressiva. Essa não sou eu. Tenho que parar de ler coisas ruins. Afinal, já melhorei muito dos outros problemas que eu tinha antes, eu posso estabilizar essa doença. Mas não posso ficar torta, não posso ter um bebê torto. Se for para ter uma criança que será problemática e infeliz, prefiro me contentar em viver só eu e meu amor. Eu não quero mais fazer tattos, torrar no sol, ter filho, fazer esportes radicais, correr, nadar, deixar de passar cremes. Eu não preciso de nada disso. Não fique com pena de mim, isso tudo poderia ser uma escolha. Eu nem lhe contei nada disso. Isso é tudo bobagem.


(trecho de um novo livro)

sábado, 22 de agosto de 2015

Lançamento de livro de Minicontos

Hoje foi o lançamento de Minicontos Coloridos, livro que fui convidada novamente para participar, dentre pessoas de várias partes do Brasil.
Algumas horas antes, tive o prazer de fazer um curso de Empreendedor Editorial, com Paulo Tedesco. Foi um dia incrível!











terça-feira, 16 de junho de 2015

Lançamento de PLÁTANO & BORDO

Foi lançado meu primeiro romance solo, finalmente! Não há palavras para definir minha satisfação com o evento, com as pessoas que estavam presentes e com o meu sentimento de dever cumprido!
BANNER DO EVENTO - 13/06/2015
Sou apaixonada pela minha criação, pois nela consegui reunir música, dança, amor, psicologia, problemas sociais referentes ao sistema carcerário brasileiro, questões familiares e de amizades, crimes e psicopatia.
Sobre a psicopatia, lembre-se de que não temos no Brasil leis que regulamentem tratamento, testes psicológicos e segmentação de presidiários. Sendo assim, vale a pena conferir esse intrigante romance de suspense erótico. 

Para adquirir o livro basta clicar neste link; 









Veja também algumas das fotos do lançamento abaixo:



















sábado, 6 de junho de 2015

Resenha do filme “O segredo dos seus olhos”

Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro (argentino), conta a história do personagem Benjamin Espósito (Ricardo Darín) que, alguns anos depois de se aposentar, decide voltar a um crime no qual trabalhou enquanto perito, cuja solução ficou adormecida por 25 anos. Ele era subordinado à advogada Irene, pela qual era apaixonado, mas nunca acreditara neste amor por parecerem de mundos e classes sociais muito diferentes. Seu funcionário, Pablo, se propôs a ajudá-lo na época em que ocorreu o crime. Primeiramente, esse caso, denominado caso 25, não era para ser seu. Porém, o convenceram a trabalhar nele e, após estar envolvido, nunca mais conseguira sair dele. Tratava-se de um crime de estupro com morte, de uma jovem professora de 23 anos, casada.
O viúvo dela, Moráles, em um dos seus encontros na busca de solucionar o caso, perguntara a Espósito qual seria a pena para esse tipo de crime e obteve a resposta: prisão perpétua. Nessa etapa da investigação, foram forjados três culpados, que eram operários de uma obra próxima à casa da vítima. Espósito, após sua própria investigação em álbuns da moça, que se chamava Lilliana Colotto, percebe o olhar pervertido de um homem que olhava para ela em uma das fotos, como se estivesse a adorá-la doentiamente. Ele resolve checar quem é esse indivíduo e descobre, por meio de telefonemas a sua mãe, que esse tal Isidoro Gómes e Lilliana foram namorados de infância e que ele partira de Buenos Aires recentemente. Depois, descobriu que ele havia trocado de nome cinco vezes.
Pablo era alcoólatra e muitas vezes já havia causado problemas a Espósito; estava, portanto, devendo favores a ele. Certo dia, os dois seguem para a casa da mãe de Gómes a fim de encontrar cartas dele com endereço atual, mas acaba sendo um desastre essa missão, pois eles são descobertos. Por conta disso, Irene é forçada a arquivar o caso. Contudo, Pablo que, assim como Espósito, não consegue tirar o caso da cabeça, reflete que um homem pode mudar de tudo: mulher, nome, religião, endereço, rosto... Mas um homem nunca abandona uma paixão. Ele descobre isso ao analisar as cartas roubadas, pois em todas elas há códigos relacionados aos jogadores de futebol do Racing. Ou seja, ele era torcedor fanático e poderiam encontrá-lo, justamente, em um jogo do time.
Após muitas tentativas, de diversos jogos, eles encontram finalmente Gómes e começa uma caçada fenomenal ao criminoso dentro do estádio. Quando finalmente conseguem prendê-lo, Espósito começa a interrogá-lo, mas sem muitas perspectivas de sucesso. Até que Irene entra na sala para avisá-lo que não estavam encontrando Pablo e, para isso, ela abaixou-se levemente à altura dos ouvidos de Espósito, o que chamou a atenção dos olhos perversos de Gómes, que os fixou nos seios dela. Irene percebe esse olhar doentio e passa a utilizar uma tática para que ele se entregue, dizendo que ele nunca poderia ter feito sexo com uma amazona daquelas, pois não passava de um franguinho, não teria capacidade de domá-la, pois ela era uma mulher, e não uma rapariga que aceitaria qualquer um.  Ela baixou tanto a moral do homem que ele enraiveceu-se a ponto de abrir as calças e mostrar o seu pênis. Os dois discutiram, ele deu um tapa no rosto de Irene e os guardas o seguraram, mas ele já havia confessado o crime, como se esperava. Certamente ele estuprara e matara por se achar capaz, e Irene sabia que um homem não aceitaria tal dúvida a seu respeito.
Pouco tempo depois, ele foi solto por ser útil em outros assuntos do delegado, que não gostava de Espósito. Quando Pablo é assassinado no lugar dele, Espósito decide ir embora mesmo sabendo que Irene corresponde o seu amor. Ela o chama de lerdo, mas ele se vai para Jujuy, voltando só depois de 25 anos, quando a procura para mostrar o romance que escrevia baseado neste caso 25. Entretanto, agora ela está casada e tem dois filhos, mas o apoia no romance. Além de Irene, ele procura Moráles, pois desconfiava que fora ordem dele para matarem-no, afinal, os retratos em sua casa foram abaixados por Pablo, ele morreu se passando pelo amigo. Moráles afirma que a vida é assim mesmo, pessoas se vão e o que resta são as recordações, e diz, também, que pare de pensar, pois senão terá mil passados e nenhum futuro. Não pense mais.
Evidentemente, Espósito vai embora pensando. Mas não vai longe; retorna à casa mais tarde e se depara com o porão iluminado na casa de Moráles, onde se encontra preso Gómes. Neste instante, o prisioneiro se aproxima da grade e pede que Espósito ao menos peça que Moráles fale com ele. Moráles olha para Espósito e reafirma: “você disse prisão perpétua”.
Então, após essa impactante descoberta, no dia seguinte Espósito procura Irene mostrando algo diferente no olhar. Ela manda, esperançosa, seu assistente fechar a porta. Ela sorri e diz que será complicado, mas, desta vez, ele diz que não se importa. Enfim, os mil passados ficam atrás da porta, fechados, e o futuro pode ter uma chance.

Este é um ótimo romance de suspense, em nenhum momento o espectador prevê o que acontecerá, simplesmente parece que o criminoso está solto e que o viúvo seguiu sua vida insignificante satisfeito por ter causado uma perda ao perito que não foi capaz de cumprir com sua palavra de prisão perpétua. Porém, esse perito foi longe no olhar que estava na foto, buscou informações, foi a fundo naquele segredo, mas não obteve apoio da justiça. E o olhar da vítima, o olhar do esposo lesado, o amigo morto em seu apartamento, foi o que ficou na sua memória por 25 anos e, provavelmente, aumentou o medo de amar. É um grande filme, digno de Oscar.

sábado, 30 de maio de 2015

Meu blog não tem anúncios

   A parte que mais gosto de ler da Zero Hora são os artigos dos colunistas, e hoje me chamou a atenção um artigo da Claudia Tajes, sobre zona de desconforto. Então fiquei pensando, será que estou na minha zona de conforto? Parece estranho que mesmo sabendo que existem ferramentas de marketing, palavras-chave, termos mais utilizados e adwords eu ainda não me interesse em ir a fundo nisso. Meu blog não tem anúncios porque ainda não tenho a intensão de conseguir dinheiro com ele e porque esse não é o meu trabalho principal. Já me sinto feliz em dizer que um dos meus hobbies é o meu trabalho, ou seja, revisar textos. Mais prazeroso do que este é a minha segunda ocupação, como escritora. Agora sei por que perguntam a diversos escritores iniciantes se eles não trabalham. É isso mesmo, podem sentir inveja, pois escrever não é um trabalho árduo. É uma bênção e um prazer.
   
   É claro que às vezes sinto uma vontade imensa de que os leitores do meu blog aumentem progressivamente. Porém, essas coisas vêm com o tempo. É difícil ter seguidores fiéis, mas a partir do momento que se tem um, aparece o segundo, o terceiro, o quarto, e assim eles vão se multiplicando. Entretanto, os primeiros nunca serão os seus amigos. É comprovado que os amigos não acreditam no seu potencial de primeira, a não ser quando desconhecidos dizem que você é incrível e curtem as suas postagens.
   Uma vez fui obrigada a ouvir de uma grande amiga que eu era “quase escritora”, enquanto pessoas que eu conheci “ontem” me apresentam como escritora. Talvez você esteja pensando que eu disse “grande amiga” porque uma melhor amiga não poderia dizer algo assim... Só que isso é um engano. Uma melhor amiga é bem capaz de dizer esse tipo de indelicadeza se ela não for amante de literatura. E as pessoas não se dão conta de que estão deixando de dar apoio em uma hora dessas simplesmente por achar que não era tão importante esse reconhecimento.
   Hoje sei que melhor amigo não existe. Não quero parecer pessimista ou ingrata com as minhas amigas, afinal tenho muitas. Mas foi exatamente isso que me ajudou a compreender: cada momento da vida é feito para uma pessoa estar ao seu lado, uma das suas amigas sempre será a sua melhor amiga “em um momento específico”. Outro dia será a vez de outra amiga, e assim por diante. Ninguém está presente em tempo integral na vida da melhor amiga, infelizmente. A parte boa é que sempre haverá alguém do seu lado.

   Contudo, ainda em relação ao meu blog, sei que deveria me esforçar mais, mas sei que a minha vontade é o que faz abrirem-se portas. No momento certo farei isso, ou surgirão mais seguidores sem que eu perceba. O fato é que, por enquanto, escrevo para mim e para aqueles que já me elogiaram e gostaram das minhas palavras. O sucesso não aparece para aqueles que querem abraçar o mundo, e sim para aqueles que se concentram no que é possível e no seu público-alvo. Quanto a isso estou com a consciência tranquila, pois a melhor forma de agir é de forma inovadora, porém, segmentada. Fazendo isso, já estou pensando fora da caixa. 

segunda-feira, 27 de abril de 2015

REALINHANDO

Já aparece o dia, com sua cura finita
O de ontem deixou feridas aí;
Deixou nojo e repugnância aqui.
Ó mãe sagrada, por que fazes de ti uma coitada?
E de mim, uma filha sem compaixão?
Não se pode entender, abraçar ou agradar
Pessoa desagradável que vive a julgar.
O que resta é calar, respirar fundo e tentar não brigar.
Pena é que tu não sabes caminhar sem pisar nas sombras.
Minha alma se entristece,
Assim que te vais e me sinto alegre,

Pois não é o certo, mas quem sabe amanhã se recupere.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Entrevista para o blog DESENHANDO EM LETRAS

Já faz alguns dias que tive a honra de fazer esta entrevista, mas o tempo está curto e só pude postar agora:

http://desenhandoemletras.weebly.com/entrevistas/entrevistando-carolina-utinguassu-flores

sexta-feira, 27 de março de 2015

COISAS QUE NÃO SABEMOS QUE GOSTAMOS

   Sempre odiei vendedores insistentes e achava que todas as espécies deles eram iguais. Certo dia resolvi pedir emprego em uma loja de material de construção (sim, a Anastásia dos 50 tons roubou a minha história), afinal, sou técnica em Edificações (aí você me pergunta:técnica em quê?). Pois é, eu estava cansada de trabalhar em obras, com projetos, etc. Então fiquei durante quatro anos nessa madeireira, popularmente assim denominada. Tornei-me uma das melhores funcionárias, vendia tudo o que eu queria, visando o "bem" do meu cliente, é claro. Vendedora, não! Mas, sim, consultora de vendas. Aprendi muitas técnicas, passei a ser carismática, brincalhona e despachada. Nada como o tempo pra me ensinar que eu podia gostar daquilo que eu odeio nos outros!
   Após mais algum tempo, percebi que aquilo era muito pouco para mim, pelo lado profissional; e por outro lado, muito estresse e cansaço físico. Quem mandou não estudar? Ok, um curso técnico já é alguma coisa, mas chega um ponto em que o salário não sobe, o que sobe são as incomodações!
Resolvi fazer curso de inglês. Nossa, havia esquecido como sempre tive facilidade com linguagem, lembro-me de um dia em que eu atendia uma cliente e ela escreveu no verso do seu pedido de entrega um roteiro de como chegar ao seu endereço. Quando eu fui ler, comecei a corrigir todos os erros que via pela frente! Que vergonha, a mulher se desculpou pelo seu português ruim e eu não sabia aonde me enfiar!
   Em seguida fiz vestibular e entrei para a faculdade de Licenciatura em Letras (inglês), apesar de nunca ter pensado em ser professora. Odiava essa ideia. Por quê? Pela falta de reconhecimento do governo com esses grandes profissionais e por medo de não ter paciência para passar meu aprendizado aos estudantes. Porém, sabia que chegaria a hora de fazer meus estágios. No primeiro, dei aula para estudantes acadêmicos, na própria universidade. Surgiu essa possibilidade, em vez de dar aula para o ensino fundamental, e eu agarrei rapidamente. Nesse período, eu quase não tinha sonhos que não fossem das didáticas que eu deveria fazer com eles relacionadas ao programa do curso. Aliás, tornaram-se pesadelos, principalmente porque eu deveria falar em tempo integral em inglês, como a professora deles. Mas passou, e os alunos chegaram até a me elogiar! Que alegria! Saí da sala de aula sorrindo pelo meu “good job” e por ter terminado o sofrimento de planejar aula naquele semestre.
   Depois, no meu segundo estágio, dei aulas para o ensino médio. No entanto, foi diferente porque eu pude criar meu tema livremente, ou seja, utilizei a literatura (que é o meu chão) para fazê-los interagir contando histórias de diferentes formas, em inglês. Eles amaram e participaram o tempo todo. Como eu faço parte de um projeto de docência da Capes (outra coisa que resolvi fazer no impulso, mas que acabei gostando), já estava habituada com pré-adolescentes e adolescentes de até 16 anos.
Se você me perguntar se foi bom, imagine que saí da escola, no último de dia de estágio, com vontade de chorar. Sabe aquela pressão nas amígdalas? Comecei a senti-la quando vários alunos vieram me abraçar.

   Como não se apaixonar por pessoinhas carinhosas que, percebe-se, só precisam de aulas mais atraentes para gostar de estudar? Como não se tornar amiga desses jovens lindos? Realmente, a vida surpreende. E você nunca saberá se gosta de pimenta sem experimentá-la.

domingo, 15 de março de 2015

Manual de convivência amorosa

     Você está enfrentando problemas a ponto de ligar para todas as amigas para ter certeza de que não está louca? Normal. Quando se começa um novo romance, temos a sensação de que a historia não irá longe ao aparecerem os primeiros desentendimentos. Porém, com o tempo, os laços vão se fortificando até que se percebe que aquela pessoa é quem nos traz emoção e felicidade, que vem com a paixão, o amor. 
     Certamente a experiência de morar com alguém é, acima de tudo, um desafio. Comigo não foi diferente. Brigas bobas que parecem ser o fim da picada na hora do quebra-quebra; palavras duras são ditas e outras piores vêm à tona. Um turbilhão de sentimentos, corações pulando pela garganta, falta de ar, rios de lágrimas... Até que haja um comum acordo, um respeito mútuo, um carinho recíproco. Sendo assim, passando dos seis meses pode-se dizer que o teste foi satisfatório. Se não passar disso, com certeza o amor entre o casal não foi maduro o bastante para lidar com as regras básicas de convivência amorosa... O que quero dizer? Bem, é muito simples: para que você seja bem-sucedido neste "negócio" não é necessário um manual de convivência amorosa de trezentas páginas. Você precisa apenas aprender (e ensinar) que o casal deve se tratar como ótimos amigos. Você não distrata um grande amigo, não é mesmo?
     Na sequência da receita, aprenda a ter paciência, respirar fundo e relevar "muitas" das coisas cuja importância seja insignificante perto do estresse que incomoda tanto a vida a dois.
Cobranças em demasia prejudicam o bem-estar e o apreço entre o casal, assim como discussões em público enfraquecem qualquer relação (brigue apenas com o olhar, fuja do mico e da raiva que isso pode causar). Existe hora certa, tom de voz adequado e tempo limite para debater ou tentar mudar manias (cuidado nesta hora, cada pessoa tem uma mania mais esquisita que a outra; não vale a pena um confronto frequente).
     E não esqueça de regar seu relacionamento; aprecie a companhia, elogie seu par seguidamente, faça surpresas periódicas e fuja da rotina. Isso tudo fará o casamento se tornar algo maravilhoso, não custa tentar ser feliz! Desentendimentos sempre irão acontecer, mas não podem durar mais de uma hora. Em caso de pane, reinicie o sistema e repita as operações indicadas anteriormente. 

sábado, 14 de março de 2015

A escolha do lugar


Vamos pensar na expressão popular "cada um no seu quadrado", É bem verdade que escolhemos estranhamente sempre o mesmo lugar para sentar quando frequentamos determinado local várias vezes na semana. Mas comecei a notar algo em mim mais curioso ainda: em cada lugar que frequento o cantinho que escolho para me acomodar difere. Por exemplo, na sala de aula gosto da metade da sala esquerda; na aula de dança do ventre escolho o lado direito da sala; na aula de zumba prefiro o lado esquerdo perto da professora; no treino de hapkido gosto mais do lado direito, na aula de treinamento suspenso e bike, gosto de ficar no meio da sala, bem em frente ao professor(a). Porém, em casa me acomodo em diversos lugares muito bem. Por que será?

Andei pensando sobre as energias dos ambientes, apesar de eu não ser o tipo de pessoa sensível. Ao menos nunca vi a aura de ninguém ou senti calafrios e tonturas dependendo das pessoas ou local.
Por isso comecei a trocar os lugares, afinal todos têm o direito de experimentar cada quadrado. Mas, quer saber? Começar a criar um padrão de localização parece doença. Mesmo sem saber se percebo diferenças energéticas inconscientemente, melhor continuar ficando onde me apetece.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Sobre o filme A Teoria de Tudo

A história do gênio Stephen Hawking não é desconhecida. Todos sabem da sua situação atual, em que o cosmólogo vive preso em um corpo e apenas consegue fazer suas ideias serem ouvidas por meio de uma voz metálica através de uma tecnologia fantástica. Chorei baixo durante o filme quando ele começou com os primeiros sintomas da doença motora degenerativa. Sua namorada se mostrou forte o bastante para ficar ao lado dele e, inclusive, se casaram e tiveram três filhos lindos após o diagnóstico. As cenas me emocionaram muito, pois é raro vermos um amor tão grande capaz de lidar com a pré-morte a qual foram levados a acreditar que duraria dois anos. Fiquei impressionada com o humor dele e a forma como ainda era galanteador e confiante. Em pensar que muitas pessoas se acham incapazes de amar novamente quando julgam seus problemas de saúde um empecilho. No entanto, o cientista - assim que soube que havia encontrado outra pessoa mais preparada para a situação, que o admirava e apreciava cuidar dele - liberou sua já cansada esposa para seguir sua vida. Aposto que se ele não a tivesse dispensado, indo viajar com a enfermeira, ela o acompanharia até hoje.  Chorei alto no final do filme. Céus, como pode ser possível alguém com tão forte senso de humor e força? Lógico que o que vimos é apenas a melhor parte... O universo é algo muito louco mesmo, tão louco que ás vezes dá pra sentir a explosão das estrelas, a formação do buraco negro e a extinção desse buraco negro no interior do peito... Afinal, tudo passa e se transforma, não é mesmo? Sempre digo que nada importa mais do que a saúde... Mas pensando bem, nada importa mais do que a mente. Tudo o que existe em nossas vidas é resultado das somas e subtrações que fazemos, das nossas atitudes. Meu Mestre de Hapkido sempre diz que a dor é nossa amiga, mas ela também me assusta. Antes eu gostava mais de senti-la, pois é sinal de vida mesmo. Porém, sentir fisgadas é indício de quebra, esfarelamento e, portanto, há que se cuidar para não confundir a dor amiga da dor malvada. Para ser honesta, já sinto menos dor agora, já posso parar de escrever.

domingo, 25 de janeiro de 2015

"A MADRUGADA" (CONTO PREMIADO - VIII CLIPP/2014)

Era a terceira vez que a menina conferia o horário no relógio. Não gostava dele, mas não saber o horário provavelmente não ajudaria a dormir. O fato é que ainda não decidira entre tirá-lo da parede ou jogá-lo pela janela. “Qual seria a reação da pessoa que recebesse uma relojada na cabeça lá embaixo?”, imaginou a cena, considerando que, na melhor das hipóteses, ele faria um barulhão, pois não era “qualquer” relógio. Media por volta de 25 cm de diâmetro, feito de madeira e em formato de Uroboro. Ela refletia: Será que no além existe relógio? Quem morre usando relógio de pulso continua com a imagem dele em si. Mas deve ser só a imagem. É certo que ele não continua marcando o tempo, pois o tempo em outra dimensão é diferente. Tinha certeza que passava um trilhão de vezes mais rápido.
Droga, só de pensar nas possibilidades de existência de um simples relógio o ponteiro já havia andado quase meia hora a mais do seu possível sono.   “Ei, espera aí! O relógio e o clips foram as invensões mais preciosas e úteis que já tivemos! Sem marcar as coisas, minha memória seria pior ainda!”, disse para si. Realmente, Lis marcava todas as suas melhores lembranças com clips coloridos. Não tinha o hábito de marcar compromissos com clips na agenda; para isso existia a agenda do celular. O passado é que a preocupava, pois era difícil lembrar-se dos cheiros, do toque, das roupas, dos lugares comuns, das palavras ditas... O problema é que se lembrava somente dos traumas. Era por isso que seus olhos não dormiam. Seriam mais visões desagradáveis, mais sofrimento, mais saudade. Nessas horas sempre havia alguém querendo conversar. Estranhos de quem não podia falar. “Nem pense nisso, Lis Maria, não acreditariam em ti!”, repreende-se a menina magrela de 12 anos, que já estava com sua cabeleira crespa parecendo com a de uma bruxa, de tanto revirar-se na cama.
O friozinho aumentava e a dormência a invadia. Uma mão está sobre suas costas. Lis manda a entidade embora: “Não quero falar agora, vai embora!”, no entanto, após alguns segundos ela é chacoalhada. Vira-se num pulo, com os olhos arregalados no escuro. Ouve o barulho da árvore balançando do lado de fora da janela, o vulto se mescla ao movimento dos galhos. Espreme-se no canto da parede e, neste momento, consegue enxergar melhor. Era sua mãe. Enfim chegara o dia que prometera voltar, contemplar a filha e contar como era do outro lado, mas a menina havia esquecido a língua dos surdos e não entendia os gestos de sua mãe. Sua memória falhara em mais um detalhe. Percebeu que não adiantava viver sem passado. Queria conhecer o relógio de Deus, queria dormir tranquila. De tanto querer, o seu ponteiro parou marcando quatro horas.

Para sua surpresa, no lugar para onde sua mãe a levou ninguém dormia. Não havia agenda, clips, relógio, cobertor, comida, rádio, televisão e nem celular! “Ai que tédio! Eu quero voltar!”