Jacinto era um
homem muito rico e nobre, chamado diversas vezes pelo seu amigo e narrador, Zé Fernandes, de "meu Príncipe". Levemente curvado, elegante, sustentava uma bengala grossa com castão de
cristal, mantinha o cabelo e bigode sempre bem escovado. Imaginava até metade de sua vida, morando na
Cidade de Paris, que a felicidade e os prazeres da vida provinham de Saber e de
Poder, fórmula esta criada na sua seguinte equação metafísica: Suma ciência +
Suma potência = Suma felicidade.
Com este
entendimento, nada mais útil que uma biblioteca com mais de trinta mil volumes
para alimentar sua cultura, tinha muitos tipos de águas, invenções sempre novas
de máquinas com diversas utilidades, inclusive para simplesmente abotoar as
ceroulas. Mas com o tempo este Jacinto se viu triste, sem atrativos, com
milhares de compromissos que não traziam beleza à sua vida. Passou então a
perceber que a tranquilidade que necessitava, não existia junto com os desejos
que o preocupavam. Na Cidade havia ilusões e falsas delícias. Só encontrou
harmonia e equilíbrio no momento em que seguiu rumo à Serra, em Tormes. Passou
a perceber que a inteligência, no campo, se libertava e o pensamento ia longe, comprou
apenas livros de agricultura, para aprender como semear, a época de plantar e
colher os vegetais e o tempo de espera do crescimento das árvores que queria
plantar. Lá ele visitou parentes de Zé Fernandes, passou por diversas casas,
muito diferentes dos lugares que já havia passado como Veneza, Paris, Londres e
Lisboa. Descobriu que todos os dias havia uma inesgotável diversidade de formas
nos vegetais e plantas, já na Cidade havia mesmice de casas, costumes inúteis e
falta de beleza interior. A verdade de existência estava no campo e os
sentimentos mais humanos também. Casou-se com Joaninha, prima de Zé Fernandes, teve dois filhos: Jacintinho e Terezinha. Jacinto brotou para a vida, como disse o grilo. O galho seco da Cidade foi plantado na serra, criara seiva, criara raízes, engroçara o tronco, dera frutos, derramando sombra.
Há frases muito
bonitas no livro como:
“Somos moléculas do mesmo corpo, onde circula,
como sangue, o mesmo Deus.”
“Na Cidade nunca
se olham ou se sentem os astros, na serra há comunhão com o Universo.”
“Equilíbrio da
vida estabelecido, e com ele a Grã-Ventura.”
Machado de Assis foi extremamente
destemido em fazer críticas de que as obras de Eça de Queirós são imitações, dizendo que O
Crime do Padre Amaro é imitação do romance de Zola La Faute de l'Abbé Mouret),
que não emocionam nem prendem o leitor(como em Primo Basílio, onde caso não
houvesse o fato da chantagem de Juliana com as cartas escritas por Luiza ao seu amante, seria uma história sem nada de
interessante). Para Machado de Assis, o fato de Eça de Queirós ser muito
descritivo e algumas vezes fora da realidade, acabaria por matar o Realismo no
próprio berço. Aconselha, então, aos defensores das Obras de Eça a lerem
novamente os romances para prestaram atenção às imperfeições. Além disso,
critica a linguagem que não é poeticamente literária e suas cenas eróticas são
abusivas. Apesar disso, diz ser admirador de Eça de Queirós.
Diversas vezes, eu lendo o livro,
me peguei dormindo. Realmente é minuciosamente descritivo, mas de resto
aproveitei muito a leitura no sentido de que tive mais certeza ainda que, tanto
antigamente como nos dias atuais, é ruim saber de tudo um pouco. É como se você
fosse um funcionário “Pato”. O pato faz tudo, canta, corre, voa. Pena que não
se especializou em nenhuma destas funções, desempenha todas mal.
É importante que as pessoas
consigam perceber o ponto de equilíbrio, nem tanto à serra, nem tanto à cidade.
Não cometer exageros, mas também não se acomodar. O ponto de equilíbrio é
aquele em que você está no mar e a água bate na cintura, se der um passo e
tiver um buraco à frente, não irá se afogar. Se der um passo para trás, ainda
poderá boiar. É o ponto onde não quebram as ondas.