domingo, 17 de março de 2013

COMPREENSÃO


Nas ocasiões em que morria alguém especial um sentimento de aperto a fazia chorar e pensar: “Que pena, era tão jovem, coitado. Que tristeza que é a morte, como a vida é frágil”.  No final do dia, com tantas lágrimas derramadas, tentava afastar o medo de sua própria morte e a morte de outros familiares ou amigos, então chegava uma hora em que só queria descansar deste pesadelo e esperar um novo dia. Considerando uma vida inteira, o sentimento que mais fazia Rebeca chorar era a raiva e mágoas, causadas por brigas. Nunca, porém, imaginou que um sentimento de incompetência e inutilidade a abalasse tão facilmente, cujo suspiro e respiração profunda, ao invés de acalmá-la, trouxessem uma cachoeira de lágrimas velozes aos olhos. Uma impressão de que nunca progrediria e que todos viam seu fracasso. Medo de errar novamente. Percebia, enfim, que não só o corpo era frágil, mas o psicológico também caminha na corda bamba. Sentada numa mureta, as lágrimas quentes escorriam pelas bochechas. Precisava ficar sozinha. Estava indignada com sua incapacidade. Ao seu lado havia um mendigo agachado num bueiro. Sentiu-se uma estúpida dramática reclamando de bobagens. Agora chorava por ele.