Nas
ocasiões em que morria alguém especial um sentimento de aperto a fazia chorar e
pensar: “Que pena, era tão jovem, coitado. Que tristeza que é a morte, como a vida é frágil”. No
final do dia, com tantas lágrimas derramadas, tentava afastar o medo de sua
própria morte e a morte de outros familiares ou amigos, então chegava uma hora
em que só queria descansar deste pesadelo e esperar um novo dia. Considerando
uma vida inteira, o sentimento que mais fazia Rebeca chorar era a raiva e mágoas, causadas por brigas. Nunca,
porém, imaginou que um sentimento de incompetência e inutilidade a abalasse tão
facilmente, cujo suspiro e respiração profunda, ao invés de acalmá-la, trouxessem
uma cachoeira de lágrimas velozes aos olhos. Uma impressão de que nunca progrediria
e que todos viam seu fracasso. Medo de errar novamente. Percebia, enfim, que não
só o corpo era frágil, mas o psicológico também caminha na corda bamba. Sentada
numa mureta, as lágrimas quentes escorriam pelas bochechas. Precisava ficar
sozinha. Estava indignada com sua incapacidade. Ao seu lado havia um mendigo agachado
num bueiro. Sentiu-se uma estúpida dramática reclamando de bobagens. Agora
chorava por ele.